Cannabis sativa: entenda os benefícios medicinais da planta

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A Cannabis sativa é uma espécie de planta herbácea que pertence à família Cannabaceae. Com caule ereto e folhas características em forma de palma, esta planta pode atingir entre 1,5 e 3 metros de altura quando adulta.

Ela possui flores masculinas e femininas em plantas separadas, sendo as femininas as que produzem maior quantidade de compostos medicinais. Sua estrutura única contém glândulas especiais chamadas tricomas, que produzem os canabinoides, substâncias químicas responsáveis pelos efeitos terapêuticos da planta.

Esta planta versátil tem acompanhado a humanidade por milênios, sendo uma das mais antigas cultivadas pelo ser humano. Com registros de uso que datam de 2.900 a.C. na China antiga, a Cannabis sativa foi utilizada tradicionalmente para fins medicinais, rituais e têxteis.

Hoje em dia, a ciência moderna confirma seus benefícios terapêuticos por meio de estudos rigorosos, revelando seu potencial no tratamento de diversas condições médicas.

Como a cannabis sativa age no organismo?

Os canabinoides presentes na Cannabis sativa interagem com receptores específicos no corpo humano. O canabidiol, ou CBD, e outros compostos da planta atuam no sistema endocanabinoide, responsável por regular funções vitais como sono, apetite, resposta imunológica e percepção da dor. Esta interação explica os efeitos terapêuticos observados em diversos tratamentos médicos.

O corpo humano possui receptores CB1 e CB2 em várias regiões do cérebro e do sistema nervoso como um todo. Esses receptores formam o sistema endocanabinoide. É nesse sistema do organismo que as substâncias da Cannabis sativa agem.

explicação dos diferentes receptores do organismo

Quando os canabinoides se ligam a esses receptores, eles modulam a liberação de neurotransmissores, o que resulta em diversos efeitos fisiológicos e psicológicos. Essa interação é fundamental para compreender o potencial medicinal da Cannabis sativa.

Cannabis sativa e indica: diferenças fundamentais

As variedades sativa e indica da Cannabis apresentam características botânicas e perfis químicos distintos, resultando em diferentes aplicações medicinais. A Cannabis sativa tradicionalmente contém maiores concentrações de tetraidrocanabinol (THC) e é conhecida por seus efeitos mais estimulantes e energizantes, enquanto a indica possui perfil mais relaxante e sedativo.

Os tipos de canabidiol presentes em cada variedade determinam suas aplicações terapêuticas específicas. A Cannabis sativa, com maior teor de THC, é mais indicada para condições que demandam efeitos estimulantes, como a depressão crônica e efeitos colaterais da quimioterapia. Já a indica, com níveis mais elevados de CBD, é comumente utilizada para transtornos do sono, ansiedade e dores neuropáticas.

Principais doenças tratadas e benefícios comprovados

A medicina baseada em evidências tem demonstrado a eficácia dos canabinoides no tratamento de diversas condições. A epilepsia refratária, uma das indicações mais bem documentadas, apresenta redução significativa na frequência das crises com o uso do canabidiol.

O Delta-8 THC é um dos canabinoides presentes na planta que também demonstra resultados promissores no tratamento de dores crônicas, incluindo as neuropáticas e oncológicas. Entre as principais condições beneficiadas pelos tratamentos com os diferentes canabinoides da Cannabis sativa e indica estão:

  • Esclerose múltipla: redução de espasmos musculares e dores;
  • Náuseas e vômitos causados por quimioterapia;
  • Ansiedade e transtornos do sono;
  • Dor crônica e fibromialgia;
  • Doença de Parkinson: melhora dos sintomas motores;
  • Autismo: redução da agitação e melhora do comportamento social;
  • Alzheimer: controle da agitação e preservação da função cognitiva.

Os estudos científicos têm revelado que os canabinoides, principalmente o CBD e o THC, interagem com o sistema endocanabinoide de maneira a promover efeitos terapêuticos em diversas áreas da saúde. Essa interação moduladora resulta em benefícios como redução da dor, controle da inflamação, melhora do humor, do apetite e do sono.

Regulamentação e acesso ao tratamento com Cannabis sativa

O processo de aquisição da Cannabis sativa medicinal no Brasil segue regulamentações específicas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Para ter acesso ao tratamento, é necessário apresentar prescrição médica e seguir os protocolos estabelecidos pela legislação vigente.

Desde 2019, a ANVISA aprovou o registro de medicamentos à base de canabidiol para uso em condições como epilepsia refratária, esclerose múltipla e dor neuropática. Esse controle rigoroso garante a qualidade e segurança dos produtos, aspectos fundamentais para o sucesso do tratamento.

O paciente deve obter a autorização da ANVISA, apresentar a receita médica e adquirir os produtos em farmácias e drogarias autorizadas. Essa regulamentação visa assegurar o acesso legal aos tratamentos com Cannabis sativa, evitando o mercado ilegal e garantindo a eficácia e segurança dos produtos.

Orientações sobre interações medicamentosas

O uso da Cannabis sativa medicinal requer acompanhamento profissional, especialmente quando combinado com outros medicamentos. As interações medicamentosas podem alterar a eficácia tanto do tratamento com canabinoides quanto de outros fármacos em uso.

Alguns medicamentos, como antidepressivos, ansiolíticos, anti-inflamatórios e anticonvulsivantes, podem interagir com os canabinoides, resultando em efeitos potencializados ou reduzidos. Além disso, os canabinoides podem afetar o metabolismo de outros medicamentos, alterando suas concentrações no organismo.

A orientação médica adequada permite ajustes nas dosagens e monitoramento dos efeitos, garantindo um tratamento seguro e eficaz. É fundamental que o paciente informe todos os medicamentos em uso antes de iniciar o tratamento com Cannabis sativa, a fim de evitar interações prejudiciais.

Perspectivas futuras do uso medicinal da Cannabis sativa

O futuro do tratamento com Cannabis sativa é promissor, com novas pesquisas revelando possibilidades terapêuticas adicionais. Os avanços científicos têm permitido o desenvolvimento de formulações cada vez mais específicas e eficazes, beneficiando um número crescente de pacientes com diferentes condições médicas.

Estudos recentes têm explorado o potencial de outros canabinoides, como o Delta-8 THC, o CBN, o CBG e outros no tratamento de diversas condições. Esses compostos demonstram efeitos terapêuticos únicos, com propriedades ansiolíticas, anti-inflamatórias e analgésicas, sendo uma opção interessante para quem busca os benefícios medicinais com menos efeitos psicoativos.

Além disso, a compreensão cada vez mais aprofundada do sistema endocanabinoide e de suas interações com os diferentes canabinoides abre portas para o desenvolvimento de terapias personalizadas e mais eficazes. Esse campo em constante evolução promete revolucionar o tratamento de diversas doenças, melhorando a qualidade de vida de um número crescente de pacientes.

Referências

  • BLESSING, E. M. et al. Cannabidiol as a Potential Treatment for Anxiety Disorders. Neurotherapeutics, v. 12, n. 4, p. 825-836, 2015. (BLESSING et al., 2015)
  • FRAGUAS-SANCHEZ, A. I.; TORRES-SUAREZ, A. I. Medical Use of Cannabinoids. Drugs, v. 78, n. 16, p. 1665-1703, 2018. (FRAGUAS-SANCHEZ; TORRES-SUAREZ, 2018)
  • MECHOULAM, R.; PARKER, L. A. The Endocannabinoid System and the Brain. Annual Review of Psychology, v. 64, p. 21-47, 2013. (MECHOULAM; PARKER, 2013)
  • PISANTI, S. et al. Cannabidiol: State of the art and new challenges for therapeutic applications. Pharmacology & Therapeutics, v. 175, p. 133-150, 2017. (PISANTI et al., 2017)
  • RUSSO, E. B. Cannabis Therapeutics and the Future of Neurology. Frontiers in Integrative Neuroscience, v. 12, p. 51, 2018. (RUSSO, 2018)

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